A Importância dos Hábitos de Vida na Saúde do Coração
Com uma carreira marcada por mais de 300 estudos e 12 livros científicos, a cardiologista e intensivista Ludhmila Hajjar tem se posicionado ativamente em questões políticas relacionadas à saúde pública. Neste ano, um dos seus projetos mais ambiciosos foi a criação do primeiro ‘hospital inteligente’ no Brasil, um complexo com 800 leitos que será integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS), resultado de parcerias com diferentes governos e apoio internacional. Em entrevista ao GLOBO, Hajjar faz uma análise dos principais acontecimentos em sua especialidade ao longo de 2025 e discute como a temporada de festas pode ser um período crítico para a saúde cardiovascular. Ela também destaca os hábitos que podem contribuir para uma vida longa e saudável.
Recentemente, duas mudanças significativas foram implementadas em sua área: as metas para controle de colesterol e pressão arterial se tornaram mais rigorosas. Mas qual o impacto real dessas alterações nos cuidados do coração? As doenças cardiovasculares, como infarto e derrame cerebral, são as principais causas de morte no Brasil, com cerca de 400 mil óbitos anuais causados por infarto, a metade dos quais poderia ser evitada com o controle adequado dos fatores de risco. Entre eles, destacam-se o LDL, conhecido como colesterol ruim, e a hipertensão. Assim, o controle rigoroso dessas taxas é essencial. Atualmente, a meta de LDL para a população geral é não ultrapassar 115 mg/dL, enquanto pessoas de alto risco devem manter o nível abaixo de 40 mg/dL. A pressão arterial, por sua vez, também teve suas definições revistas, com novos parâmetros indicando que uma leitura de 12 por 8 mmHg já é considerada pré-hipertensão. Essas mudanças, segundo Hajjar, são resultado de um maior conhecimento sobre o corpo humano e o avanço das ferramentas médicas, permitindo alertas mais precoces para riscos cardiovasculares.
Atividade Física e Alimentação: Quais São os Melhores Hábitos para o Coração?
A cardiologista destaca que o ideal é adotar um estilo de vida que integre dieta equilibrada e atividade física. Embora ambos sejam fundamentais, a atividade física apresenta mais evidências científicas que comprovam seus benefícios na redução de doenças cardiovasculares e na prevenção de diversos tipos de câncer. Para maximizar os benefícios, o recomendado é a prática de exercícios aeróbicos e de força, somando pelo menos 150 minutos semanais. Já em relação à alimentação, a dieta mediterrânea é a mais recomendada, sendo composta por grãos integrais, legumes, frutas, azeite de oliva extravirgem e peixes, enquanto se reduz a ingestão de carboidratos refinados e alimentos ultraprocessados.
O Álcool e Seus Riscos à Saúde
Com a aproximação das festividades de fim de ano, surge também uma preocupação crescente em relação ao consumo de álcool. Hajjar defende uma postura de tolerância zero em relação ao álcool, destacando que não há benefícios associados ao seu consumo. Pelo contrário, o álcool está relacionado a diversas doenças, incluindo cânceres de pâncreas, intestino, boca e cabeça. De acordo com a médica, o conhecimento sobre os malefícios do álcool evoluiu bastante nos últimos anos, especialmente em relação ao fato de que seus riscos superam os benefícios do resveratrol, um composto encontrado na uva. Durante o final de ano, o aumento no consumo de álcool frequentemente resulta em um crescimento de internações por problemas cardíacos e acidentes, refletindo o impacto do estresse e das pressões sociais nesta época.
Desafios na Medicina: Liderança Feminina e Formação de Médicos
Na sua atuação como líder de uma equipe de médicos e cientistas, Hajjar observa que, apesar dos avanços, a medicina ainda enfrenta desafios em relação à liderança feminina. Ela aponta que, em instituições como a Faculdade de Medicina de São Paulo, a maioria dos professores titulares ainda é composta por homens. Em sua trajetória, a cardiologista foi rotulada como ‘brava’ pelos seus colegas, porém, ela acredita que essa postura foi necessária para ser ouvida em um ambiente tradicionalmente machista.
Inovação na Saúde: O Projeto do Primeiro Hospital Inteligente
Recentemente, o Senado brasileiro aprovou a criação do primeiro ‘hospital inteligente’, um projeto que Hajjar lidera. Com um design pensado para otimizar o atendimento e reduzir filas, esse hospital utilizará inteligência artificial e integração de dados para melhorar a experiência do paciente. A ideia é que, ao ser conectado via smartphone, o paciente tenha seu pré-registro acessível, permitindo um atendimento mais ágil e eficaz. A proposta, que inclui 800 leitos, dos quais 300 serão de UTI, está prevista para ser inaugurada até 2028 em São Paulo, integrando-se ao complexo do Hospital das Clínicas e será gerida pelo SUS.
Uma Nova Perspectiva na Formação Médica
Por fim, ao se referir a um projeto de lei que visa impor uma prova obrigatória para formandos em medicina, Hajjar expressa sua oposição. Para ela, essa medida não resolveria os problemas de formação inadequada enfrentados na medicina brasileira. O foco, segundo ela, deve estar na criação de critérios mais rigorosos para a abertura e manutenção de instituições de ensino, assegurando que os futuros médicos sejam devidamente capacitados para atuar em emergências e UTIs.
