O Cenário Atual do Preço do Leite no Brasil
Nos últimos meses, o preço do leite ao produtor tem enfrentado uma queda contínua, sendo esse o oitavo mês consecutivo de desvalorização na chamada “Média Brasil”. De acordo com dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), vinculado à Esalq/USP, o preço médio do leite captado em novembro foi de R$ 2,1122 por litro. Esse valor representa uma diminuição de 8,31% em comparação ao mês anterior e uma redução ainda mais acentuada de 23,3% quando analisado em relação a novembro do ano passado, considerando a correção pela inflação medida pelo IPCA. Em termos acumulados, os preços demonstram uma queda real de 21,2% neste ano, reflexo do excessivo abastecimento no mercado.
O aumento na oferta de leite tem sido notável em 2025, com o Cepea prevendo um crescimento médio de 7% na captação industrial, alcançando um recorde de 27,14 bilhões de litros até o final do ano. Esse progresso é resultado dos investimentos realizados no ano anterior e de condições climáticas favoráveis, que ajudaram a impulsionar a produção nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, ao mesmo tempo em que moderaram a sazonalidade na produção do Sul do país.
O Impacto das Importações e Estoques no Mercado
As importações também desempenham um papel crucial na configuração do mercado lácteo. Apesar de haver uma queda de 14,8% nas importações em novembro, os volumes continuam altos. Somente neste ano, aproximadamente 2,05 bilhões de litros em equivalente leite (Eql) foram importados, representando uma diminuição de 4,8% em comparação ao ano anterior, que já havia sido recorde em importações. Por outro lado, as exportações registraram um declínio de 33% quando comparadas ao mesmo período do ano passado, com um total de 62,4 milhões de litros Eql acumulados.
O crescimento dos estoques de produtos lácteos tem gerado pressão sobre as negociações. Tanto a indústria quanto os canais de distribuição estão abarrotados, o que vem comprimindo as margens de lucro dos laticínios. Um levantamento do Cepea, em parceria com a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), revelou que os preços de itens como queijo muçarela, leite UHT e leite em pó, comercializados no atacado paulista, sofreram desvalorizações significativas em novembro, com quedas de 3,7%, 11,1% e 2,9%, respectivamente. Após essas diminuições, os preços médios passaram para R$ 28,99 por kg, R$ 3,59 por litro e R$ 28,57 por kg.
Desafios para os Produtores de Leite
Com a diminuição dos preços dos lácteos, a receita dos produtores também está se estreitando. Ao mesmo tempo, os custos de produção seguem uma trajetória de alta. Embora o preço da ração tenha caído 0,63% em novembro, o custo operacional efetivo (COE) registrou uma alta de 0,22%, impulsionada pela valorização de outros insumos. O aumento no preço do milho, por exemplo, tornou-se um fator preocupante para os produtores: em outubro, foi necessário o equivalente a 28,4 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg de milho, o que representa um aumento de 7,1% em comparação a setembro.
Esses dados evidenciam um cenário de perda de rentabilidade entre os produtores e uma crescente cautela nos investimentos. Esta situação, se mantida, pode levar a uma desaceleração na produção de leite, refletindo uma tendência preocupante para o setor lácteo brasileiro. É imprescindível que os agentes do mercado estejam atentos a esses movimentos e adaptem suas estratégias para lidar com a volatilidade dos preços e a dinâmica de oferta.
