Desafios e Expectativas no Mercosul
No último sábado, 20 de dezembro, durante a abertura da 67ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, realizada em Foz do Iguaçu, Paraná, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso incisivo sobre a longa espera pelo acordo entre Mercosul e União Europeia. Lula lembrou que a escolha da data para a cúpula foi uma solicitação da União Europeia com a expectativa de que, finalmente, após 26 anos de negociações, o acordo pudesse ser assinado. No entanto, as esperanças foram frustradas.
“Após mais de um quarto de século de diálogos, estávamos prontos para assinar, mas a Europa ainda não se decidiu. Os líderes europeus solicitaram mais tempo para discutir medidas adicionais de proteção agrícola. Recebi, ontem, uma carta da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do presidente do Conselho Europeu, António Costa, expressando a expectativa de que o acordo seja aprovado em janeiro. Sem a vontade política e a coragem dos líderes, não conseguiremos concluir uma negociação que já se arrasta por tanto tempo. Enquanto isso, o Mercosul continuará estreitando laços com outros parceiros”, afirmou Lula.
Obstáculos e Oportunidades
O presidente brasileiro detalhou os fatores que impediram a assinatura do acordo. Ele ressaltou que, mesmo com as resistências históricas da França, as portas para a concretização do acordo permanecem abertas. “Todos sabíamos da posição da França. Recentemente, surgiu um impasse envolvendo a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que alegou que a alocação de recursos agrícolas da União Europeia estava prejudicando a Itália. Isso fez com que ela se visse impossibilitada de assinar agora”, explicou.
Lula também mencionou uma conversa que teve com Meloni, onde a primeira-ministra se comprometeu a assinar o acordo no início de janeiro. “Se ela estiver pronta e a França for o único obstáculo, conforme afirmaram Ursula e António, não há como a França sozinha bloquear este avanço. O acordo será assinado, e espero que isso aconteça logo no início da presidência do Paraguai com Santiago Peña”, completou o presidente.
Fortalecimento da Segurança e Direitos Humanos
A cúpula também marcou o término da Presidência Pro Tempore brasileira do Mercosul, que teve como uma de suas conquistas a aprovação da Estratégia do Mercosul de Combate ao Crime Organizado Transnacional (EMCCOT). Esse marco é considerado fundamental para o fortalecimento da cooperação regional em segurança pública e justiça. “Enfraquecer as instituições é abrir espaço para o crime organizado. A segurança pública é um direito do cidadão e um dever do Estado. O Mercosul demonstrou sua disposição em enfrentar as redes criminosas de forma conjunta”, afirmou Lula.
Além disso, o presidente destacou a necessidade de um pacto do Mercosul para o fim do feminicídio e da violência contra a mulher na América Latina, região com alarmantes taxas de assassinatos de mulheres. “Gostaria de propor ao Paraguai que trabalhemos juntos para criar um grande pacto pelo fim do feminicídio”, sugeriu.
Reflexões sobre a Geopolítica Regional
Lula também abordou as tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela, classificando um possível conflito armado como uma catástrofe humanitária. “A construção de uma América do Sul próspera e pacífica é a única doutrina que nos convém. Uma intervenção militar na Venezuela seria um precedente perigoso para o mundo”, avisou.
A nova ponte entre Brasil e Paraguai, inaugurada recentemente, foi mencionada como um símbolo de união e cooperação. “Em tempos em que erguer muros é mais fácil do que construir pontes, essa nova estrutura deve ser lembrada como um sinal da nossa determinação em caminhar juntos”, disse Lula.
Expectativas Futuras para o Mercosul
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fez uma avaliação da presidência brasileira, ressaltando esforços para reforçar o mercado regional e trabalhar em temas como transição energética e segurança pública. Durante o próximo semestre, a presidência do Paraguai será desafiada a avançar nas negociações e incluir setores atualmente excluídos do bloco. O Brasil pediu que a nova presidência continue os trabalhos em relação ao Acordo sobre Proteção e Recuperação de Bens Culturais no Mercosul.
Fundado em 1991, o Mercosul se posiciona como a principal iniciativa de integração da América Latina, envolvendo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, com a Bolívia como membro mais recente. O bloco, que ainda conta com sete Estados Associados, é um pilar fundamental para a cooperação e desenvolvimento econômico da região.
