Fortalecendo a Identidade Cultural
A língua Parikwaki vai além de um simples sistema de símbolos; ela é a essência cultural e a forma de ver o mundo do povo Palikur-Arukwayene. Constituindo um elemento central da identidade desse grupo, a língua é transmitida com esmero entre seus falantes, que agora se reúnem para debater a transformação e modernização da escrita do idioma. Juntamente com educadores, líderes comunitários e pesquisadores, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tem desempenhado um papel crucial nesse processo de reforma.
O 1º Encontro de Revisão da Ortografia da Língua Parikwaki foi realizado na Aldeia Kumenê, localizada na Terra Indígena Uaçá, em Oiapoque (AP), entre os dias 1º e 5 de dezembro. Durante esse evento, falantes nativos, estudiosos e instituições apoiadoras se reuniram para discutir a formalização da escrita da língua Parikwaki. Essa atividade faz parte do projeto “Qual(is) Língua(s) Você Fala? Rumo à identificação e à salvaguarda das línguas indígenas do Oiapoque”, desenvolvido pela Universidade Federal do Amapá e respaldado pelo Iphan, que disponibilizou cerca de R$ 400 mil por meio do Edital do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI).
Ao final do encontro, um documento foi produzido, apresentando um conjunto de decisões e resoluções que marcam o compromisso dos participantes. O artigo 1º deste documento sublinha que “a língua Parikwaki é inseparável da cultura Arukwayene e constitui um pilar do modo de vida, da memória, da espiritualidade, dos valores e dos saberes que moldam a relação com o território”. A língua é falada por comunidades indígenas que habitam as regiões ribeirinhas do Amapá e da Guiana Francesa, especialmente nas proximidades do rio Oiapoque.
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Fonte: agazetadorio.com.br
Representantes de 15 aldeias do povo Palikur-Arukwayene participaram da programação. Segundo Michel Flores, superintendente do Iphan no Amapá, esta iniciativa é um passo importante para valorizar e proteger o patrimônio linguístico e cultural dos povos indígenas da região. “Esse trabalho é fundamental para garantir o direito à preservação da língua e da memória do povo Palikur, já que sua história é, em grande parte, passada de forma oral. A padronização de uma escrita oficial é essencial para assegurar uma grafia uniforme”, afirmou.
Revisão Ortográfica e Identidade Cultural
A Coordenadora do projeto, Elissandra Barros, destacou que a motivação para a Revisão da Ortografia da Língua Parikwaki surgiu diretamente da demanda do povo Arukwayene. “Vários elementos da escrita atual não refletiam com precisão a fala contemporânea, dificultando tanto o processo de alfabetização quanto a produção de materiais didáticos”, enfatizou.
“A revisão da ortografia, acima de tudo, representa um ato de reafirmação identitária. Quando os próprios falantes discutem e definem como desejam que sua língua seja representada, eles também reafirmam sua história, memória e conhecimento”, completou Elissandra.
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Fonte: odiariodorio.com.br
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Após a conclusão do evento, a Associação Indígena Palikur solicitou a abertura de um processo administrativo junto ao Iphan para registrar a fabricação de bancos cerimoniais (esculturas em madeira) e a arte gráfica Palikur-Arukwayene como patrimônios culturais brasileiros.
Apoio Institucional e Iniciativas Futuras
O Iphan iniciou seu apoio ao projeto “Qual(is) Língua(s) Você Fala? Rumo à identificação e à salvaguarda das línguas indígenas do Oiapoque” em 2023, por meio da assinatura de um Termo de Execução Descentralizada (TED) no âmbito do Edital do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI).
As ações envolvem capacitação de jovens pesquisadores indígenas, documentação de práticas linguísticas, coleta de dados sociolinguísticos e criação de um acervo digital, etapas essenciais para padronizar a escrita da língua e aumentar sua presença em materiais pedagógicos e iniciativas comunitárias. O trabalho abrange três línguas indígenas: Parikwaki, Kheuol e Galibi, proporcionando referências novas para a formulação de políticas públicas.
Além de sistematizar dados sociolinguísticos e desenvolver materiais educativos e audiovisuais, o projeto busca fortalecer a autonomia das comunidades. Os moradores das 67 aldeias das Terras Indígenas Galibi, Juminã e Uaçá estão ativamente envolvidos nas pesquisas, formando jovens indígenas para atuarem como documentadores e pesquisadores de suas tradições linguísticas.
O Iphan também está alinhando suas ações ao Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), contribuindo para que a Língua Parikwaki avance rumo ao reconhecimento como Referência Cultural Brasileira — um passo fundamental para garantir uma proteção institucional duradoura.
