O Estudo que Revela o Tempo de Processamento Cerebral
Um novo estudo publicado na revista científica *Appetite* trouxe à tona informações surpreendentes sobre como nosso cérebro avalia a comida. Com uma análise feita por cientistas da Universidade de Melbourne, na Austrália, o estudo envolveu a combinação de dados de imagens cerebrais de 110 participantes com avaliações detalhadas feitas por outros 421 indivíduos. Os resultados revelaram que o cérebro começa a processar informações sobre a saúde dos alimentos aproximadamente 195 milissegundos após visualizá-los, atingindo um pico de atividade entre 200 e 227 milissegundos.
Esse tempo é notavelmente breve, e o estudo também destacou que a dimensão “apetitosa”, que engloba características relacionadas ao sabor, é processada de forma semelhante, em torno de 215 milissegundos. Isso sugere que, ao contrário das suposições anteriores, as informações sobre saúde e sabor são processadas quase simultaneamente, sem a necessidade de um tempo adicional para que a saúde dos alimentos seja avaliada.
Metodologia Detalhada e Descobertas
A pesquisa foi liderada por Violet Chae, da Escola de Ciências Psicológicas de Melbourne, que utilizou a técnica de eletroencefalografia (EEG) para medir a atividade cerebral em tempo real. Os participantes usaram toucas equipadas com 64 eletrodos, que capturavam os sinais elétricos do cérebro enquanto visualizavam imagens de diferentes alimentos em uma tela. Cada imagem era exibida por um período de dois segundos, após o qual eram feitas perguntas sobre a saúde, sabor e apetite em relação àquela comida, com respostas coletadas por meio de pressionamento de teclas.
Além disso, uma amostra separada de 421 participantes foi envolvida na classificação de 40 imagens de um total de 120, considerando 12 atributos distintos. Esses atributos incluíam não somente os aspectos nutricionais, como saúde e conteúdo calórico, mas também características hedônicas, incluindo sabor e vontade de consumir. Os pesquisadores escolheram estrategicamente as imagens dos alimentos, incluindo desde frutas e vegetais até opções menos apetitosas, aumentando assim a variação nas avaliações.
Como o Cérebro Processa as Informações Alimentares
Os pesquisadores utilizaram um método conhecido como análise de similaridade representacional. Este método permitiu a comparação entre padrões nos dados cerebrais e as avaliações feitas pelos participantes. Quando a atividade elétrica no cérebro se alinhava com as avaliações feitas para um atributo específico, isso indicava que o cérebro estava processando essa informação ativamente.
Os resultados mostraram que atributos alimentares apresentaram padrões de tempo variados. Por exemplo, a percepção de saudabilidade e conteúdo calórico começou a se revelar a partir de 195 milissegundos e alcançou um pico entre 200 e 250 milissegundos, enquanto a avaliação emocional se diferenciou, com uma resposta negativa detectada a partir de 154 milissegundos e uma positiva detectada desde 193 milissegundos.
A Integração das Informações e a Tomada de Decisão
De acordo com os pesquisadores, a janela inicial de processamento reflete a captura da atenção. Alimentos que apresentam características relevantes para a decisão tendem a captar rapidamente a atenção, o que prepara o cérebro para uma avaliação mais detalhada. As atividades sustentadas que começam entre 375 e 670 milissegundos correspondem a um processo avaliativo mais profundo, em que múltiplas características são consideradas antes de integrar essas informações em uma decisão final.
Por meio da análise de componentes principais, os cientistas identificaram duas dimensões que explicam 85,5% da variação nas avaliações alimentares dos participantes. A primeira dimensão, que se refere a “quão apetitoso” um alimento é, apresentou uma forte correlação com o sabor, vontade de comer e familiaridade, enquanto a segunda dimensão, “quão processado” um alimento é, teve uma associação negativa com a salubridade. Portanto, alimentos que foram considerados saudáveis tendem a ser mais familiares e desejáveis.
Implicações para a Compreensão do Comportamento Alimentar
As descobertas deste estudo desafiam a noção popular de que a gratificação imediata, geralmente associada ao sabor, é priorizada sobre a saúde a longo prazo. Teorias anteriores acreditavam que o sabor era processado de maneira mais rápida e fácil do que as informações nutricionais. No entanto, este estudo sugere que as informações sobre saúde são processadas com igual velocidade, o que pode influenciar a maneira como entendemos nossas escolhas alimentares e a relação que temos com a comida.
