Discussão Internacional sobre HIV e AIDS
O Brasil está no centro das atenções ao sediar e presidir a 57ª Reunião do Comitê de Coordenação do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS). O evento, que se estende até quinta-feira (18) na capital federal, reúne representantes de 22 países, além de agências da ONU e membros da sociedade civil, com a missão de orientar a resposta global ao HIV e à AIDS, e traçar uma nova estratégia para o período de 2026 a 2031. Este ano, a reunião marca também os 25 anos do UNAIDS no Brasil e os 40 anos de uma resposta nacional à epidemia de HIV/AIDS.
O papel do Brasil é considerado estratégico na governança internacional, especialmente por conta do trabalho reconhecido do Sistema Único de Saúde (SUS). Sob uma perspectiva desafiadora, o país preside o Comitê de Coordenação do UNAIDS, também conhecido como PCB. O contexto atual impõe dificuldades, com cortes na assistência internacional que, em 2025, resultaram em déficits financeiros e impactaram os serviços de prevenção, levando ao fechamento de organizações comunitárias em várias nações. Diante desse cenário, o Comitê se dedica a discutir a implementação de uma nova estratégia quinquenal, a qual será objeto de negociação entre os países-membros.
Prioridade à Prevenção
A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Mariângela Simão, teve a responsabilidade de presidir a sessão de abertura e os debates durante os dois primeiros dias do encontro. Em suas declarações, destacou que os esforços no combate ao HIV e à AIDS devem ser parte de uma parceria contínua, onde a prevenção deve ser a primeira linha de ação, e o tratamento a última opção. “As pandemias nos ensinaram que ninguém está seguro enquanto todos não estão. Enfrentamos crises em diversas esferas — climática, econômica, social e de saúde — e é essencial que direcionemos esforços para a prevenção e conscientização, promovendo um cuidado integral com a saúde”, ressaltou.
A diretora executiva da UNAIDS, Winnie Byanyima, por sua vez, enfatizou os progressos globais, mas destacou a necessidade de fortalecer a troca de conhecimentos, estratégias e tecnologias. “Agradeço ao governo brasileiro por nos receber aqui em Brasília, um local que simboliza a luta por dignidade. Mesmo em meio a desafios, devemos combater a desinformação, o estigma e o preconceito que persistem, tanto no mundo físico quanto no virtual. É vital que enfrentemos o vírus com novas ferramentas e estratégias ousadas”, enfatizou.
Relatório sobre Desigualdades na Saúde
Um dos momentos altos da programação foi o lançamento da versão em português do relatório “Rompendo o ciclo da desigualdade-pandemia: construindo a verdadeira segurança na saúde em uma era global”. A apresentação ficou a cargo de Winnie Byanyima, Mariângela Simão e Nísia Trindade, ex-ministra da Saúde e pesquisadora emérita da Fiocruz. O documento analisa como as desigualdades agravam os impactos das pandemias e, por sua vez, são aprofundadas por elas, criando um ciclo vicioso que compromete a segurança global em saúde.
O relatório aponta a urgência de implementar políticas estruturais que abordem os determinantes sociais da saúde, consideradas essenciais para a preparação e resposta a emergências sanitárias. Também foram discutidas as conclusões do documento, destacando a experiência brasileira no enfrentamento das desigualdades e seus efeitos positivos na saúde pública. Dentre os resultados apresentados estão a eliminação da transmissão vertical do HIV e a significativa redução dos óbitos por AIDS ao menor patamar em 32 anos, além de políticas públicas como o Bolsa Família que contribuíram para tais avanços.
Visitas Técnicas e Experiência do SUS
As delegações estrangeiras que chegaram a Brasília no dia 15 participaram de visitas técnicas guiadas por equipes da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, proporcionando um contato direto com a realidade da epidemia de HIV no Brasil. Entre os locais visitados, a exposição “40 Anos de História da Resposta Brasileira à AIDS”, disponível até janeiro de 2026, e uma audiência pública no Congresso Nacional, com foco nas políticas relacionadas ao enfrentamento das infecções sexualmente transmissíveis, HIV/AIDS e Hepatites Virais.
Além disso, parte do grupo conheceu serviços de saúde pública do Distrito Federal que atendem pessoas vivendo com HIV/AIDS. Dentre eles, a Policlínica 2 de Ceilândia, que oferece profilaxia pré-exposição (PrEP) e acompanhamento especializado, e o Centro Especializado em Doenças Infecciosas do DF, referência no diagnóstico e tratamento de diversas patologias. O Hospital Universitário de Brasília também foi destacado por seu atendimento a casos relacionados ao HIV.
UNAIDS e o Conselho Global
O UNAIDS, fundado em 1994, é pautado por um Comitê de Coordenação (PCB) que representa 22 governos de diferentes regiões, além de agências e organizações não governamentais. Em junho de 2023, foi anunciado o Conselho Global sobre Desigualdades, AIDS e Pandemias, uma iniciativa do UNAIDS que reúne lideranças dos setores de economia, saúde pública e direitos humanos, com a missão de enfrentar as desigualdades que impulsionam as pandemias e fortalecer a capacidade global para responder a futuras emergências sanitárias, visando ao fim da AIDS como um problema de saúde pública.
