Transformação do Crédito Rural Brasileiro
O setor de crédito rural no Brasil está passando por uma mudança significativa e silenciosa. Durante muito tempo, as práticas de ESG (ambientais, sociais e de governança) eram vistas como um custo extra ou uma exigência formal imposta por investidores e compradores. No entanto, essa percepção vem mudando rapidamente. Atualmente, o ESG se estabelece como uma ferramenta de gestão financeira essencial — um ativo estratégico que não apenas diminui o risco, mas também facilita o acesso ao crédito e permite a obtenção de financiamentos internacionais com taxas de juros mais baixas.
Ao reconhecer que o ESG não representa um custo, mas sim uma oportunidade para acessar crédito a preços mais acessíveis, os produtores rurais têm transformado suas abordagens de gestão. Assim, sustentabilidade e governança se tornam elementos centrais para garantir a competitividade e a longevidade do negócio.
Desafios do Crédito Rural e a Importância do ESG
O crédito rural enfrenta não apenas altos custos, mas também uma limitação na oferta. No ciclo do Plano Safra 2025/26, que começou em julho, foram liberados R$ 105,4 bilhões até setembro, uma queda de 18,5% se comparado à safra anterior, conforme dados do Banco Central. Esse montante corresponde a apenas 26% dos R$ 405,9 bilhões planejados para o ciclo.
Dentre as modalidades de crédito, o financiamento para custeio totalizou R$ 65,8 bilhões, enquanto investimentos e industrialização somaram R$ 19,2 bilhões e R$ 11,1 bilhões, respectivamente. Apesar do total de crédito rural, que gira em torno de R$ 594,4 bilhões, a inadimplência continua alta, próxima de 7%, refletindo o custo elevado do capital e as condições restritivas do mercado. Neste cenário, com a taxa Selic em 15% ao ano, o crédito doméstico permanece caro.
A Busca por Novas Fontes de Capital
Essa conjuntura desafiante força o agronegócio a explorar novas fontes de financiamento. É nesse contexto que o ESG se transforma de um mero discurso em uma estratégia financeira sólida. Linhas de crédito internacionais voltadas para projetos sustentáveis, oferecidas por instituições como o Banco Mundial e o BID, podem alcançar juros de até 2% ao ano em dólar, conforme estimativas de especialistas do mercado. Essa diferença pode ser crucial para a competitividade de um empreendimento agrícola.
Para acessar esses recursos, é fundamental que o produtor estruture um projeto robusto, incorporando um diagnóstico ESG, indicadores de impacto e uma governança bem definida. Este processo pode levar de três a seis meses, mas se justifica rapidamente ao possibilitar a obtenção de crédito de longo prazo com condições mais vantajosas.
Medindo o Impacto e Melhorando a Reputação
Na prática, os produtores que conseguem mensurar e demonstrar os impactos ambientais e sociais de suas operações são percebidos como de baixo risco financeiro, o que os torna mais atrativos para financiamento. Além disso, essa abordagem melhora a reputação deles junto a investidores e fundos de impacto, que movimentam anualmente mais de US$ 1,3 trilhão em finanças climáticas, segundo dados da Climate Policy Initiative (2023).
O crédito rural deve ser integrado à estratégia geral do negócio, e não como uma solução temporária para problemas de fluxo de caixa. Cada produtor possui um perfil único, tornando essencial a identificação da estrutura de capital mais adequada, conectando-o às linhas de crédito que melhor se ajustam às suas necessidades, sejam nacionais ou internacionais.
O Futuro do Crédito no Agronegócio
A capacidade de transformar bons projetos em propostas financeiras viáveis, conhecida como originação qualificada, será decisiva para o futuro do crédito no agronegócio. Há um capital considerável disponível para iniciativas de agricultura regenerativa, energia limpa e recuperação de áreas degradadas. O que muitas vezes falta é uma estruturação adequada dos projetos.
Portanto, o ESG deve ser visto não como um custo, e sim como uma eficiência de capital — um elo que conecta o agronegócio produtivo ao sistema financeiro global. Adotar essa mentalidade é o primeiro passo para transformar o crédito em uma verdadeira ferramenta de crescimento sustentável.
