Desafios e Oportunidades na Corrida Econômica Global
No competitivo cenário econômico global, a linha de chegada parece não existir. Em uma analogia com as corridas tradicionais, cada nação, ou corredor, precisa de resistência e estratégia para superar os desafios e manter um ritmo sustentável. No entanto, nos últimos anos, enfrentamos uma série de obstáculos inéditos, como pandemias, conflitos e guerras comerciais, que exigem uma adaptação constante.
Observa-se que, em momentos de turbulência, o bastão do crescimento econômico passa de um país para outro, com os Estados Unidos, a China e as nações emergentes disputando a liderança. Essa dinâmica torna a economia global uma espécie de corrida de resistência, onde fôlego, ritmo e a capacidade de coordenação institucional se tornam fundamentais para que cada nação não fique para trás.
Estados Unidos e China: Os Gigantes do Setor
Os dois maiores concorrentes da economia global, Estados Unidos e China, continuam a ditar o ritmo. De um lado, os Estados Unidos enfrentam o desafio de equilibrar sua inflação enquanto buscam o crescimento econômico, adotando uma postura mais protecionista sob o atual governo. Do outro, a China enfrenta uma desaceleração estrutural e busca recuperar seu ímpeto por meio de estímulos internos e suporte estatal às indústrias.
Essa disputa tem impacto direto no comércio internacional, que atualmente passa por uma reorientação. O Brasil, por sua vez, tenta se posicionar estrategicamente para aproveitar as oportunidades geradas por essa competição.
Brasil: Um Emergente em Busca de Espaço
O Brasil se destaca como um dos emergentes que tentam manter um ritmo estável, mesmo em meio a desafios constantes. O país apresenta uma taxa de desemprego em níveis mínimos históricos, cerca de 5,6% em agosto, de acordo com dados do IBGE. No entanto, a inflação continua distante da meta, e a taxa de juros permanece elevada.
Ainda assim, as contas públicas demandam uma coordenação e disciplina rigorosas, com a dívida bruta projetada para atingir 79% do PIB até o final de 2025, conforme estimativas do Tesouro Nacional. Isso representa um aumento de 2,5 pontos percentuais em relação a 2024, evidenciando uma trajetória crescente para a dívida nos próximos anos.
Diálogo e Diplomacia: Cruciais para o Crescimento
Os aspectos políticos e diplomáticos tornaram-se fundamentais nesta corrida. Depois de meses de tensões, uma conversa entre Lula e Donald Trump reabriu canais de diálogo entre Brasília e Washington. Para o economista Roberto Uebel, da ESPM, essa ligação marca o início das negociações tarifárias entre os países.
“Agora, é esperado que se formem grupos de trabalho com técnicos e representantes da indústria de ambos os lados, visando construir uma agenda com possíveis acordos de cooperação e isenções tarifárias”, explica Uebel. O próximo passo seria um encontro presencial entre Lula e Trump em um ambiente neutro, possivelmente na Malásia, durante a cúpula da ASEAN, seguido de um encontro bilateral em Washington.
Confiança: O Motor da Economia Brasileira
Um dos grandes obstáculos para o Brasil é a falta de confiança dos investidores. As agências de classificação de risco indicam que, embora o país possua potencial, é necessário ajustar sua respiração fiscal. Carlos Prates, da Moody’s no Brasil, ressalta que as reformas estruturais são essenciais para manter o fôlego da economia.
“Para as agências de rating, o que realmente importa são os fatores estruturais, que permanecem além das mudanças de governo. O que precisamos é de pautas que, por definição, não são populares”, destaca Prates. Isso significa que, embora o Brasil tenha potencial atrativo para investimentos, é crucial que mostre consistência nas reformas e controle fiscal.
Recentemente, Arata Ichinose, CEO da Honda Motos, anunciou um novo ciclo de investimentos de R$ 1,6 bilhão no Brasil até 2029. Durante uma entrevista, Ichinose reafirmou a confiança da empresa no potencial brasileiro. Essa declaração encapsula um sentimento crescente entre empresários, que veem no Brasil oportunidades de investimento, especialmente em setores industriais e tecnológicos, desde que o ambiente regulatório continue favorável e estável.
Em suma, embora o Brasil enfrente desafios significativos, o país ainda corre ao lado dos emergentes. A capacidade de coordenar esforços entre política, diplomacia e economia será crucial para garantir um ritmo de crescimento sustentável nos anos vindouros.