Crescimento Acelerado no Setor de Data Centers
Os investimentos em data centers no Brasil podem atingir impressionantes US$ 11,4 bilhões até 2026. Este aumento significativo está atrelado à recente Medida Provisória (MP) do governo Lula, publicada em setembro, que introduz incentivos fiscais para o setor. As empresas, em troca dos benefícios, devem investir na indústria nacional e adotar práticas sustentáveis em relação ao uso de energia e água.
A Brasscom, associação que representa mais de 80 empresas de tecnologia, estima que desse total, cerca de US$ 8,6 bilhões serão aplicados na aquisição de equipamentos, enquanto US$ 2,9 bilhões estarão voltados para infraestrutura. As expectativas são altas, especialmente considerando que 2026 será o único ano em que esses benefícios fiscais estarão em vigor, o que pode desencadear um verdadeiro boom de investimentos.
Oportunidade de Mercado e Competitividade
O cenário é promissor, dado que a indústria de data centers é altamente competitiva, com uma corrida global entre países para atrair esses investimentos. O presidente da Brasscom, Affonso Nina, ressalta que o Brasil pode se destacar como um centro de processamento de dados, especialmente em meio a negociações comerciais com os Estados Unidos. “Estamos propondo ao vice-presidente Geraldo Alckmin que o Brasil sirva como um parceiro estratégico para processar dados dos EUA”, afirma Nina.
A movimentação no setor é acentuada por empresas globais, como a Alibaba, que recentemente anunciou planos de expansão no Brasil. Eduardo Carvalho, presidente da Equinix, a maior provedora de data centers da América Latina, acredita que o Redata pode colocar o Brasil entre os três principais destinos globais para esse tipo de infraestrutura. Ele destaca a matriz energética brasileira, que é amplamente baseada em fontes renováveis, como uma vantagem competitiva em relação a outros países, como o México.
Desafios e Concorrência Internacional
No entanto, o Brasil enfrenta uma concorrência acirrada. Países como Chile e Colômbia já implementaram políticas de incentivo para atrair investimentos em data centers. O México, por sua vez, oferecerá incentivos fiscais para empresas que transferirem suas operações para seu território. A Índia, com custos de energia e mão de obra mais baixos, também se apresenta como um concorrente direto, apesar de sua dependência de fontes energéticas não renováveis, como o carvão.
Além da concorrência internacional, o Brasil também deve enfrentar o desafio da escassez de mão de obra especializada. Cléber Morais, presidente da Amazon Web Services (AWS) no Brasil, aponta que a formação de profissionais qualificados é essencial. Desde 2017, a AWS já capacitou mais de 900 mil brasileiros, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Expectativas de Investimentos Crescentes
Atualmente, o Brasil conta com 162 data centers, sendo a maioria deles localizada no Sudeste. Diante da nova MP e dos benefícios fiscais, Marcos Siqueira, da Ascenty, observou um aumento considerável na busca por investimentos estrangeiros. “Estamos em conversas com clientes internacionais que demandam grandes capacidades de energia, com projetos que exigem 100 megawatts”, comentou Siqueira.
A Elea Data Center também se mostra otimista, com Alessandro Lombardi, presidente da empresa, relatando um fluxo intenso de interessados após a assinatura da MP. Ele destaca que o mercado reagiu positivamente, com investidores demonstrando interesse em financiar novos projetos.
Benefícios Fiscais e Oportunidades Futuras
Entre as vantagens do Redata, destaca-se a isenção de impostos como IPI, PIS/Pasep e Cofins na compra de equipamentos de TIC (tecnologias da informação e comunicação) para data centers. Se os equipamentos não forem produzidos localmente, haverá também a desoneração do imposto de importação. Leonardo Homsy, advogado tributarista, destaca que a redução do imposto pode significar uma economia de até 40%, dependendo do equipamento.
Com a expectativa de uma renúncia fiscal de R$ 7,5 bilhões nos próximos três anos, o governo espera que as empresas que se beneficiarem dos incentivos direcionem 2% de seus investimentos para pesquisa e que pelo menos 10% dos serviços oferecidos sejam destinados ao mercado interno. Esse foco em inovação e desenvolvimento sustentável pode ajudar o Brasil a se posicionar como um líder no setor de data centers em um cenário global cada vez mais competitivo.