Integração de Saberes na Saúde Indígena
A valorização dos conhecimentos ancestrais se tornou um pilar fundamental para promover a segurança alimentar nas comunidades indígenas de Miranda. A troca de experiências entre os agentes indígenas de saúde e profissionais do SUS (Sistema Único de Saúde) demonstra que o diálogo entre ciência e cultura é crucial para assegurar práticas de saúde que respeitem a identidade e o pertencimento das comunidades.
A I Mostra de Experiências sobre Segurança Alimentar na Prática dos Agentes Indígenas de Saúde, realizada recentemente, teve como foco principal apresentar os resultados do projeto “Alimentando Tradições, Cultivando Saúde: Capacitação Terena no Cuidado Nutricional e Manejo da Obesidade”. Este projeto, que se desenvolveu ao longo de um ano, encerrou suas atividades em dezembro com ações voltadas à capacitação dos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) Terena em temas de atenção nutricional e prevenção da obesidade.
O evento se estabeleceu como um espaço essencial para debates coletivos e construção de estratégias que visam aprimorar o cuidado nutricional nas aldeias. Os profissionais de saúde presentes puderam não apenas compartilhar as conquistas do projeto, mas também reforçar a importância dos AIS como protagonistas na promoção de saúde integral e segurança alimentar.
Colaboração e Protagonismo Indígena
A realização da mostra foi promovida pela SES (Secretaria de Estado de Saúde), com a colaboração da Escola de Saúde Pública Dr. Jorge David Nasser e da Escola Técnica do SUS Professora Ena de Araújo Galvão, em parceria com a ASMAN (Associação Sul-Mato-Grossense de Nutrição).
Durante o evento, foram lançados dois produtos significativos resultantes do projeto: o e-book “Resgatando os Saberes Tradicionais na Alimentação Indígena Terena” e o documentário “Hîhi – Resgatando a Memória da Culinária Terena”. O documentário destaca, entre outros saberes, o tradicional preparo do bolo de mandioca, que é um símbolo importante da cultura alimentar do povo Terena.
O diretor da Escola Técnica do SUS, Newton Gonçalves de Figueiredo, ressaltou a importância da mostra como um marco de um processo colaborativo. Ele comentou: “Este momento evidencia o papel fundamental dos Agentes Indígenas de Saúde e o fortalecimento das práticas de promoção de saúde e segurança alimentar nas comunidades de Miranda. Estou orgulhoso de ver a evolução da equipe e como suas ações têm impactado positivamente a qualidade de vida e a alimentação das comunidades, integrando conhecimento, cultura e cuidado de saúde.”
Resultados e Impactos do Projeto
A gerente de Pesquisa, Extensão e Inovação em Saúde da Escola de Saúde Pública, Inara Pereira da Cunha, também destacou as metodologias que foram utilizadas no projeto, que foi viabilizado através da chamada Fundect/SEMADESC/SEAF n. 12/2023. Iniciado em 2024, o projeto utilizou cursos a distância e oficinas presenciais, assim como ações comunitárias. “As metodologias ativas foram empregadas, favorecendo a construção coletiva do conhecimento. Os produtos, como o e-book de receitas na língua terena e o documentário, potencializam o resgate cultural e o protagonismo comunitário”, explicou.
Anderson Holsbach, gerente de Alimentação e Nutrição da SES, destacou a relevância do trabalho intersetorial realizado na Secretaria de Estado de Saúde. “Os resultados desse projeto reforçam a necessidade de uma atuação conjunta entre diferentes áreas da SES para promover a saúde alimentar e nutricional, especialmente em relação à Segurança Alimentar e Nutricional e à Soberania Alimentar da população Terena. Em um estado que enfrenta altos índices de obesidade e carências nutricionais, além de ter uma das maiores populações indígenas do Brasil, esse projeto responde diretamente às demandas da Política Nacional de Alimentação e Nutrição”, afirmou.
Valorização da Tradição e Construção de Futuro
Assim, ao articular formação contínua, diálogo entre saberes e valorização cultural, a experiência em Miranda reafirma que a promoção da saúde nas comunidades indígenas precisa necessariamente reconhecer a tradição como uma aliada na criação de soluções sustentáveis e coletivas. Este projeto mostra que o respeito à identidade cultural é um elemento essencial para a efetividade das práticas de saúde e nutrição, contribuindo para o fortalecimento da segurança alimentar nas comunidades Terena.
