Compreendendo a Indulgência nas Festas
Você já percebeu a sensação de estar estufado durante as festividades? Aquele momento em que a satisfação se transforma rapidamente em desconforto. Além da sensação física, muitas pessoas também enfrentam a culpa por comer mais do que pretendiam. A pressão psicológica e física das refeições de fim de ano pode ser desafiadora. Como nutricionista, minha missão é ressaltar que seu corpo sabe lidar com o excesso de comida e bebida, e que sua saúde não é definida por alguns dias de indulgência. A verdade é que compartilhar refeições durante as festas pode criar memórias valiosas e positivas.
Se você já se questionou sobre o que acontece no seu corpo após uma refeição farta, saiba que é uma dúvida comum. Conhecer um pouco mais sobre o processo digestivo pode ajudar a aliviar o estresse e o desconforto pós-refeição.
O Funcionamento da Digestão
Os alimentos que consumimos são formados por três macronutrientes principais: carboidratos, proteínas e gorduras. O seu trato gastrointestinal realiza processos mecânicos e químicos que quebram esses nutrientes em formas mais simples, permitindo que sejam absorvidos e utilizados como energia, além de desempenharem funções biológicas essenciais.
Durante um banquete festivo, é comum ingerir uma quantidade maior de macronutrientes em um intervalo curto. Isso faz com que a digestão leve um pouco mais de tempo, resultando em um trânsito mais lento pelo seu sistema digestivo. Vale destacar que proteínas e gorduras são digeridas mais lentamente do que carboidratos. Enquanto um copo de suco de laranja oferece uma energia rápida, a combinação de proteínas e gorduras, como as que encontramos em carnes e ovos, proporciona uma energia mais duradoura.
Por isso, essa digestão mais lenta pode ser benéfica, mantendo os níveis de energia constantes e ajudando a controlar o apetite.
Desconfortos Digestivos e Como Aliviá-los
Seu sistema digestivo não para, mesmo diante de uma refeição abundante. O que varia é o tempo que leva para digerir o alimento, e isso pode causar um desconforto temporário. Ao comer, o estômago se expande para acomodar a comida, e isso aumenta a probabilidade de azia, que é o refluxo do ácido estomacal, causando aquela queimação desconfortável no peito.
Além da azia, o excesso de comida pode provocar dores estomacais, náuseas, gases e inchaço. Antes mesmo de dar a primeira garfada, o corpo se prepara para a digestão: a visão e o aroma dos alimentos já aumentam a produção de saliva e ácido estomacal. Quando a refeição é maior que o habitual, seu corpo precisa de mais energia para processá-la, o que pode resultar em uma sensação de cansaço após a refeição.
Para minimizar esse desconforto, é recomendável permanecer em pé após comer. Embora a tentação de deitar-se seja grande, isso pode piorar a dor de estômago e aumentar o risco de azia. Permita que a gravidade ajude seu corpo, ficando em pé por, pelo menos, duas a três horas após a refeição. Uma caminhada leve de 10 a 15 minutos pode ser extremamente benéfica, pois estimula as contrações estomacais e aumenta o fluxo sanguíneo para o sistema digestivo, facilitando a passagem do alimento pelo trato gastrointestinal.
Superando a Culpa Alimentar
É importante lembrar que um dia de indulgência não resulta em ganho de peso permanente nem afeta sua saúde a longo prazo. No entanto, a frequência com que sentindo culpa pode, com o tempo, prejudicar a relação com a alimentação. A maneira como pensamos e falamos sobre comida pode ser tão relevante quanto as sensações físicas após a refeição.
A comida não possui valor moral, mas muitas vezes rotulamos os alimentos como “bons” ou “maus”. Essa mentalidade é comum durante as festas; quem nunca ouviu alguém justificar um exagero com frases como “Eu me comportei bem o dia todo, então posso me dar esse prazer”?
A forma como você se refere à comida influencia sua relação com ela. A comida é também fonte de emoções positivas e memórias afetivas. Quando seu corpo associa um cheiro a uma emoção forte, a amígdala, uma parte do cérebro ligada às emoções, ativa o hipocampo, responsável por armazenar memórias. É por isso que o aroma da torta da vovó pode trazer à tona lembranças vívidas.
Nesta época festiva, foque menos nos números e mais nas companhias, nas risadas e nos sabores que tornam esses momentos especiais. Saboreie os alimentos que lhe trazem conforto e conexão; assim, você estará nutrindo mais do que somente o corpo.
Bryn Beeder é Professor visitante de Cinesiologia, Nutrição e Saúde na Universidade de Miami.
