Fiagro: A Promissora Alternativa de Crédito
Os recursos do Plano Safra têm se mostrado insuficientes para atender às demandas do agronegócio brasileiro. Essa constatação, amplamente reconhecida por produtores e especialistas em crédito, foi discutida em um evento realizado no início de dezembro em São Paulo, onde se analisou o papel dos investimentos privados para preencher essa lacuna deixada pelos recursos públicos.
“Os Fiagros são a solução”, afirma Moacir Teixeira, sócio-fundador da Ecoagro, uma empresa especializada em soluções financeiras para o setor agropecuário. Ele ressalta que a aproximação do agronegócio com o mercado de capitais pode suprir essa necessidade crescente de financiamento.
No ano passado, o governo federal destinou R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial e R$ 89 bilhões para a agricultura familiar. Contudo, as contratações estão aquém do esperado. “O agronegócio não se limita apenas a custeio. Ele requer investimentos de longo prazo para melhor se organizar operacionalmente”, destaca Teixeira.
Os Fiagros como Alternativa de Financiamento
Diante dessa necessidade, os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, conhecidos como Fiagros, se apresentam como uma alternativa eficaz para a captação de recursos no campo. Com essa diversidade de opções, os produtores rurais se tornam menos dependentes do crédito bancário e das linhas oficiais subsidiadas, como o Plano Safra.
É importante entender o conceito de Fiagro e sua relação com o mercado de capitais, muitas vezes associado a riscos imediatos, como a compra e venda de ações na bolsa. O funcionamento dos Fiagros é estruturado de forma a conectar produtores que necessitam de recursos a investidores que desejam retorno financeiro com exposição ao agronegócio. A volatilidade das commodities, embora uma preocupação, é vista como uma característica natural do setor.
Para Teixeira, o grande diferencial dos Fiagros é a certeza de que “o recurso estará disponível na hora certa”. Contudo, ele alerta para os riscos provenientes da falta de organização em certos segmentos, como o de hortifrútis. O alto custo de implantação impede que muitos produtores acessem esse tipo de financiamento de forma direta. Em contrapartida, cadeias como soja, milho, algodão, cana e café se destacam pela sua organização.
Cooperativas como Aliadas no Financiamento
A solução para essa questão pode ser encontrada na atuação de cooperativas e distribuidores. Na visão do executivo, é através de uma estrutura de financiamento indireto que o mercado de capitais pode apoiar pequenos e médios produtores rurais. “Um produtor sozinho não consegue, então essa é a melhor alternativa”, complementa.
Um exemplo prático é o CNA Fiagro, um fundo de microcrédito da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) destinado a pequenos e médios produtores, que recebem suporte da Assistência Técnica e Gerencial do Senar. Teixeira destaca que “é o dinheiro mais acessível do Brasil” em comparação com linhas de crédito oferecidas pelo governo.
“O Pronaf, assim como outros programas, apresenta muita burocracia. Mas com esse tipo de Fiagro, o produtor pode financiar praticamente qualquer necessidade; é a chave do financiamento”, salienta.
Desafios e Oportunidades no Agronegócio
Apesar do cenário promissor, o agronegócio enfrenta desafios significativos, incluindo um aumento no número de pedidos de recuperação judicial e uma elevação nos índices de inadimplência. Dados recentes indicam que o nível de endividamento no campo alcançou patamares históricos. “É um grande desafio, mas seguimos em frente”, conclui Teixeira.
